Chapada dos Veadeiros - GO (dia 4)
- Nina & Alice
- 25 de mar. de 2018
- 4 min de leitura

Alto Paraíso de Goiás, 31 de março de 2017
Bom, agora está decidido. Ontem falei com a Ilma e hoje falei com a Leia que só vou ficar aqui trabalhando até o dia 10. Continua chovendo demais... Mas pelo menos já resolvi a questão que me agoniava. As duas ficaram de boa com a minha decisão. Até porque, até anteontem elas nem sabiam que eu estaria aqui, então acho que elas saíram no lucro, não teria porque ficarem chateadas comigo por não cumprir o plano inicial (que era ficar aqui no albergue do dia 28 de março até o dia 24 de abril)... As duas estão avisadas e vou trabalhar direitinho para que elas não tenham do que reclamar.
Eu gosto bastante dos voluntários, mas a proposta do albergue é só de fachada. Achei que viria para cá e seria super bem recebida, passando 28 dias trabalhando em um jardim permacultural em uma cidade de energia alta e pura, mas não foi bem assim. E que bom, na verdade, porque se isso não acontecesse, dificilmente eu conseguiria conhecer as cachoeiras e o Parque Nacional, que são a maior razão pra eu ter vindo, porque a rotina de trabalho aqui não é tão flexível quanto imaginei que seria... Ainda me sinto desconectada total e por isso queria achar logo um novo colar de pedra bem bonito para usar e aposentar o meu antigo... Quem sabe amanhã? Vai ter uma feira de produtores da cidade!
Também tá rolando uma mostra de cinema de graça por aqui, especial do mês da mulher. Vou amanhã e domingo com a Fernanda. Tenho até dia 10 para conhecer as redondezas pois dia 11 de manhã cedo vou embora para São Jorge. Já decidi que não vou fazer reserva nenhuma. Vou chegar lá na hora e negociar com eles, eu já vi que têm muitos campings por lá, só preciso de um que tenha lona. Eu vou passar 13 noites e qualquer dono pode me dar um desconto, ainda mais se eu pagar tudo em dinheiro assim que eu chegar. Vai dar certo, eu confio. O mais difícil, que era conseguir a barraca e um saco de dormir eu já consegui com a Fernanda, e até um isolante térmico eu desenrolei com a amiga de amigos meus que mora aqui. Agora é ouro, risos.
Eu quero muito conhecer a Loquinhas e a Cachoeira dos Cristais aqui em Alto e o que mais eu conseguir conhecer é lucro. Também quero sempre acordar entre 6h e 7h para começar a trabalhar às 8h e parar às 12h. Todo dia tá chovendo, mas acho que se o tempo abrir durante a semana dá pra ir em alguma dessas cachoeiras cedo e trabalhar durante a tarde. E se eu precisar ir sozinha, tiro selfie ou peço para alguém lá mesmo para tirar uma foto minha. Mas quero muito que a Fernanda fique aqui no albergue enquanto eu estiver aqui (há chances dela não ficar, ainda não está definido).
Aqui é um dia de cada vez, de verdade. Não dá para planejar muito a frente porque as coisas são incertas demais. Cada hora querem uma coisa diferente... Nesse mar mutável, cabe a mim plantar a certeza no meu coração. Aceitar as coisas como elas são. Eu estou triste por estar chovendo tanto, mas o que mais eu posso fazer? Não está em minhas mãos.
Uma coisa que me frustra é que eu queria postar fotos todos os dias, queria que várias pessoas curtissem minhas fotos... (A maior bobagem mesmo). E tá tudo ocorrendo de uma forma diferente do que eu imaginava, né. Tudo mesmo... Mas é isso. Estou aprendendo.
E eu sabia que um mês com a quantidade de dinheiro que tenho não seria necessariamente fácil, mas era o que eu podia me dar. É aos poucos mesmo, e sei que vai ser legal, já tá sendo! Só é diferente do que eu queria. O que me leva a pensar que esperar algo específico e querer impressionar os outros são coisas que sempre vão trazer uma frustração, né? Nunca vai ser como a gente quer.
Mas dos dias aqui, hoje está sendo o mais tranquilo. Me sinto mais fincada. Tenho um colchão para mim, um horário de trabalho, uma data de check-out... Agora as coisas tão fluindo. Eu até vi um arco-íris lindo que durou poucos minutos enquanto estava na cozinha de tarde. Fiz brigadeiro de biomassa também, com banana verde do pé daqui. Comi muito bem hoje e estou tranquila agora. Um dia de cada vez.
E a impressão que tenho é que esse mês foi imenso! Nas primeiras horas do dia 1º eu estava em um bloco de carnaval lotado no Centro do Rio, cheia de purpurina dourada e álcool na mente, profundamente angustiada. Hoje, no último dia eu estou há dias sem beber, em uma cidade distante da minha, no coração da Chapada dos Veadeiros. A mudança é a única certeza da vida (e no fim, tem a morte).
Absorva o bem de cada situação e aprenda com o mal. Não se apegue tão fortemente ao sofrimento pois tudo muda sempre. Cresça, agradeça por tudo que você tem. Olhe para o lado bom. Deixe as bad vibes no começo de março. Receba abril de peito aberto.
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